sexta-feira, janeiro 25, 2008

A Escolinha #3 ou Escrever Sobre Teatro É Complicado...

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Decidi então escrever sobre a minha dificuldade de decisão (coisa que já não acontecia há bastante tempo!), sobre a minha dificuldade em escrever sobre teatro e sobre o meu actual cansaço e desalento face ao teatro no meu país, onde de repente tudo me parece demasiado fácil, óbvio, onde já nada me surpreende e que cada vez mais me faz acreditar que conhecer uma arte por dentro é meio caminho andado para que o encanto se quebre.

Estou farto de ver clássicos em clássicos, clássicos a atirar ao experimentalista e contemporâneos a atirar ao retro.

Não há paciência para uma nova geração de actores bonitinhos e inqualificados. Actores que emergem como cogumelos, são postos em cena sem saber diferenciar um proscénio de uma direita alta e acharem que Shakespeare pode ser um batido de pêra e que, tal como os ditos fungos tendem, na sua maioria a desaparecer com as primeiras chuvas, pois a base de sustentação é fraca. O mesmo é válido para “velhos” actores que têm momentos de epifania (causados na maioria das vezes por falta de trabalho), e decidem iniciar-se na encenação com ideias tão avant-garde, que muitas vezes nem os próprios as apanham.

Aborrece-me a falta de rigor em coisas tão simples como um actor estar fora de luz espectáculo após espectáculo, cena após cena e não haver ninguém que o alerte antes de estrear, nem mesmo depois, já que é incapaz de se corrigir.

Chateia-me o artistedo de novos actores que saem do conservatório e, como até não são maus, são convidados para integrar um elenco de um Nacional e depois exigem diariamente flores frescas no camarim.

Chateia-me esta cultura de teatra que se vive, assiste e cultiva, que sabota o próprio meio com os seus direitos adquiridos e vitalícios (alguns post-mortem) a quantidades escandalosas de convites por espectáculo, quando poderiam perfeitamente pagá-los. Esta teatra onde se imiscuem os iluminados que nunca gostam de nada do que vêem, mas que também não se vê conseguirem fazer nada melhor.

Irrita-me o constante discurso derrotista e de comiseração (muitas vezes infundado) da subsidio-dependência. Seria bem melhor que se empregasse o tempo perdido nesses discursos a trabalhar no sentido de definir estratégias viáveis para que as estruturas se tornem gradualmente mais auto-suficientes.

Tira-me do sério usar esta dependência como desculpa para a falta de qualidade de um trabalho.

Ah! E obviamente todos os pseudotes que, lá porque tiraram um mestrado, com um nome do tamanho de um comboio, em Londres, Paris ou Nova Iorque e até têm jeitinho para a escrita, criticam tudo e todos (mesmo o que não interessa), normalmente de forma bastante acutilante e negativa (pois diz que são pessoas de gosto requintado e que já viram mundos e fundos). No entanto, não são capazes de argumentar, de sustentar a crítica quando confrontados com a mesma, evadindo-se com “Eu tinha de escrever alguma coisa!” ou “Ah, mas há ali coisas que foram retocadas pelo chefe de redacção e mudou um pouco o sentido da ideia original. Não era bem aquilo que eu queria dizer!”

Entristece-me que tenha de haver uma Plataforma de Intermitentes para que um País se aperceba que o artista não tem subsídio de férias ou desemprego, décimo terceiro mês e não tem simplesmente direito a estar doente e “meter baixa”. Alegra-me no entanto esta atitude de acordar as mentes de uma nação habituada a resignar-se numa passividade exasperante do “faz-se o que se pode!”.

Poderia ainda dissertar acerca de jogos políticos que permitem a entrega do monopólio da programação de um teatro municipal a um só ser, mas cairia novamente em regionalismos e não é esse o meu objectivo aqui, pelo que sinto que será sensato terminar por aqui.
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